domingo, 12 de dezembro de 2010

A vida em caixas

Os lugares têm memórias. Os lugares são testemunhas dos nossos segundos, do minutos que insistiam em voar, das horas que cruelmente se faziam curtas. Os lugares são eternos assim como as palavras, o toque, o afago e os risos. Só os lugares guardam segredos dos contos escrevemos com nosso próprio sangue, sendo nós mesmos, usando nossas peles. Um dia esse barco chegaria a um porto, onde um de nós seguiria viagem e numa estranha sociedade, um de nós herdaria os acenos à beira do cais.

Pelo menos me deixe as canções para que eu as leve debaixo do braço, junto das fotos no parque , junto com o par de nossas pegadas na areia que as ondas prepotentemente acham que apagam.

Por que o café quente está frio? Por que raios, esse azul não deixa de ser cinza? Por que a loteria não me acerta essa semana? Por que não quero levantar da cama? Por que ainda continuo a falar sozinho com as paredes, sonhando com você?

Agora vejo, que meu temor das palavras era real, que elas são cruéis se não tens a destreza ao usá-las. Elas também são terríveis quando elas querem sair e as prendemos, elas são leões famintos e feridos numa gaiola de pássaros.

Agora vejo que o fim chega e sua vida está em caixas esperando sua ida, e o ultimo abraço está lá fora a bater a porta, aguardando para entrar e dizer que é hora de partir.

Sua vida está em caixas, e aqui o eco se instala pela sala… pelo quarto… e na minha mente vazia.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Derrotas

Me flagro viciado em minhas derrotas. Não qualquer derrota, mas naquelas geradas pelo irresistível sentimento de te colocar em primeiro lugar em minhas preces. Na vital necessidade do teu cheiro. Nos momentos em que te vejo no azul do céu, na alegria das crianças, na paz dos velhos e na paixão dos namorados. Então, sigo derrotado, feito prisioneiro em um guerra que fiz questão de perder. Assim , você pôde me levar a todos os recônditos lugares do teu mundo, onde pude perceber, tudo que me faltava todo esse tempo em que fui estrangeiro em tuas terras.

Já não vejo como sair das tuas grades, se tudo que preciso está nos teus passos quando tu vens em minha direção, e sinto a fatal e imbatível sensação de bem que surge quando a distância entre nós diminui. Sendo cativo em tua cela, percebo que das milhares de palavras, das centenas de idiomas que o mundo já ouvi, elas se resumem a fazer minha boca pronúncia o teu nome. Teu nome é a oração que faz tudo que sou estremecer em um êxtase arrebatador de felicidade.

Aos teus ataques dos teus encantos, minhas muralhas caem como castelos de cartas ao vento. Vento este vindo do teu jeito sereno de pensar, na tua impaciencia, na demora com tuas inocentes vaidades de mulher, e no jeito de fazer tudo o que é cinza, se tornar cor e poesia.

Não faz sentido lutar, não faz sentido vitória sobre a sedução impercepitvel com que me envolves. Realmente não faz sentido, se meus desejos e meus anseios, meu choro e meu riso, meu nada e meu tudo se resumem na tua essência.

E assim, nessa agradável guerra de nós dois, por mais ilógico que pareça, baixo minhas armas e me rendo sem dúvida e sem medo.

Para todo o sempre.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Começo do começo

Te guardo no ar que respiras, e rapidamente escondo seguro em meu bolso o teu sorriso simples da mais simples simplicidade. Como em uma tela, pinto teu rosto e tua imagem nas paredes da minha memória, com a tinta que julgo ser feita com as cores do tempo. Guardo você como o fogo do eterno, e o deixo para sempre na minha efemera eternidade para que seja a água no meu deserto. Se não existem constelações que me fazem adormecer , tu serás sempre minha mais bela obra com as estrelas que escolho no céu. E ao deitar-me, todas as noites iluminarás meus sonhos. Quisera eu conhecer a essencia das hilárias composições e da rapida resposta informal que te faz ser o que é.

Se tu és palavra, tu te chamas alegria

sábado, 11 de setembro de 2010

Dias de inverno

Nos dias em que o inverno chega, as cores somem em fugas desesperadas. Nos dias em que o inverno chega, se é feliz pelos abraços. Nos dias em que o inverno chega, não há certezas, apenas talvez. Nos dias em que o inverno chega, as distâncias ficam menores. Nos dias em que o inverno chega, os olhos são tão distantes quanto o horizonte se fundindo ao céu. No dias em que o inverno chega, reza-se para que o mundo dê suas voltas. No dia em que o inverno chega, os sabores da presença são o calor dos sorrisos.

No dia em que o inverno vai, as cores voltam aos abraços na certeza da proximidade dos olhos, que rezam para que a vida continue repleta de sorrisos.

Mas do que me importa se é inverno ou verão, se tu és a razão das minhas manhãs de primavera e das felizes tardes de outono.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Branco do papel

Por onde andará minha alma? Através de que olhos distantes ela contempla o horizonte? Em que peito suspira nos fins de tardes? Por onde andará minha alma?
Em que caminhos devo andar, para que o acaso me surpreenda fazendo encontra-la? Através de que pés ela corre em direção à aurora? Como um rio quero que me leve em suas correntezas. Com que perfume ela seduz os corações? Com qual luz encanta sorrisos com seu sorriso? Onde se deita minha alma? E antes de adormecer, com que pensamentos fecha seus olhos e que sonhos habitam suas noites?
Que versos desesperados escreverá minha alma na solidão das rotinas? No papel em branco derrama seus sentimentos em formas de palavras, o que será que escreve?
De quem serei eu, a alma? Se vejo o avermelhado dos crespusculos, se meu peito se enche ansiedade e curiosidade, se meus pés correm pelo amanhecer, e quem levarei em minhas águas?
Sabemos que são as perguntas que movem o mundo e assim me movimento em sua direção.

E portanto, antes de fechar meus olhos e sonhar, escrevo esta carta desesperada no inquieto branco do papel.

domingo, 6 de junho de 2010

Feliz Aniversário

De tudo que eu poderia desejar a você, eu te desejo a pureza do Sonho. Esse mundo gratuito e perfeito no qual somos reis e plebeus ao sabor de nossas vontades. Assim será a deusa de todos os ares e de todos os mares da tua essencia, onde a verdade é como o nascer do sol, imponente, real e que todos os dias ilumina tudo. O sonho será teus país, e teu leito materno e o esconderijo no temor da noite. Eu te desejo o sonho como lareira sincera a te dar o doce calor da esperança e que te faz adormecer e acordar para o mundo real e assim ver que infinitas são as tuas possibilidades.

Roubo para você, do alto do céu, a eternidade dos deuses, e assim verás que o metal um dia desaparecerá, o fogo haverá de se apagar, e que as montanhas serão reduzidas ao leve peso dos grãos de areia, mas o sonho que carregas em teu coração ecoará pela Historia, sem se preocupar em transcender pelo passado, presente e futuro.

Impossivel seria viver como expectador, sentado na primeira fileira como os perfeccionistas ou os displicentes atrasados da ultima fila, a ver inertes, o palco de seus dias desde o nascimento, sem aplausos ou vaias, apenas olhos e ouvidos. Não desejo que conheça, os futuros atos da peça de tua existência, pois a surpresa te faz viva. Mas que tu possas dirigir o curso de tuas falas e as cenas de teus passos.

Exista como diferença. Nada mais triste que ser igual. Que a diferença não se baseie no orgulho ou nos traiçoeiros caminhos da vaidade. Seja a diferença, seja aquele acorde da canção que a faz ser única, e que penetra em nossa alma e a faz estremecer. Estremeça a alma das pessoas, e as faça melhor e delas faça também acordes, diferentes e com isso criarás uma sinfonia tão bela que fará este mundo cansado e cinzento um lar aconchegante para todos

Lá, mesmo que longe, te observo, e tento ler em teu sorriso, que está feliz e que o sonho te faz entender, que não se pode só nascer, crescer, se reproduzir e morrer. Do que adianta ter asa veloz se não pudermos desejar às nuvens? Que você tenha inquietude natural do acordar e o desejo de fazer com o que a realidade seja o Sonho continuado com sensações reais. Essa inquietude que a ti desejo já levou o homem a voar, a andar pelas terras lunares e descobrir os segredos do Universo.

Lucida, te desejo que esteja, para perceber que existe muito mais do que seus olhos podem ver. Que o azul do céu, não é apenas o azul do céu, mas a poesia monocromática na qual o universo se mostra. O céu é a nossa janela para imensidão. Assim, quando andares, veja alem das flores, que tu vejas as cores, o engenho e arte por traz da Criação. A sensibilidade é um dadiva, e o alimento para amizades mais sinceras.

Importante que guardes minhas palavras e meus votos. Portanto, não sente-se nem na primeira fila, muito menos na ultima, mas suba ao palco e seja a atriz principal e atue o papel de sua vida, mostrando a todos que seus atos foram escritos por você e que em cada cena, os teus sonhos sejam teu Grand Finale!

Esse texto foi escrito especialmente como presente de aniversário para minha amiga Drielly Trentini.

Brasil, 7 de junho de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Flexas

Tenho uma estranha relação com as palavras. Um fascinio completo pelas criadoras de mundos, um sentimento de ter gratuitamente, na lingua e nas mãos o poder de mover montanhas. Admiro as palavras na sua simplicidade de ser e na imortalidade de seus significados. São como chaves discretas, que vem pelo ar a se instalar em nossa mente e abrir os reconditos de nossas memorias, soltar das jaulas as feras adormecidas e fazer falar a criança e o poeta que há dentro de nós. Já se dizia que flexa atirada e palavra dita não tem volta. E as flexas das palavras muitas vezes acertam o coração e dizem para o mundo que de nós emana vida. Flexas para o bem ou para o mal. Sem volta e sem perdão.
Então atire suas flexas e que elas voem alto e que elas ecoem a essencia do teu ser por toda eternidade.

sábado, 15 de maio de 2010

Sobre Campos e Mares

Já havia arado os campos, os alicerces estava firmes, havia lenha para a lareira e comida na mesa. Era bom sentir os pés firmes nos chão e saber que estava em ordem de novo. Os dias eram gratas surpresas e tudo renascia novo e bonito. E então ouvi que ao longe se aproximava o vento, um vento inocente, mas poderoso. Reconheci que os ventos de tua tempestade, doce e letal. Senti o tremor da força de teus terremotos, criados por tuas palavras. As tuas águas implacáveis vinham em minha direção com a sede dos teus maremotos.

Entorpecido sob o peso da surpresa, meu munfo foi tomado pela tua presença repentina, num retorno violento ao meu viver. Me vi arrastado, acorrentado mais uma vez após muito tempo da tua ausência que era a presença mais certa em meus dias. E como um joguete, fui levado levado ao sabor de tuas ondas, enquanto o sopro de tua voz me brindava com o caos que criaste em meu coração já sarado de tua doença.

Agora não há mais campos, nem alicerces, a lenha há muito se fora e sigo faminto, perdido em tuas águas sem saber nem como e nem por que...

Se é para ser dilúvio, então que me guarde pelo menos nas profundezas do teu ser.

Keep Walking

Por mais que os caminhos se alonguem à minha frente e o horizonte seja tão inalcansável como os limites do Universo, conto com a audácias de meus pés e a insistência de minhas pernas.
Do que me importa o manso sossego da dúvida ou a tediosa segurança do que é certo e previsível, adornado por suas estabilidade floridas, se não crescerei e não verei nada além de poucos raios de sol que são direito natural de qualquer pedra ou grão de areia?
O jogo das possibilidades futuras cujas cartas só verei se eu partir agora é o que me faz vivo, alimentado pela curiosidade e faminto por novas, claras manhãs e misteriosas e indecifráveis noites.

Por isso me beija e me faz levar você cravada em meu peito como se você fosse minha alma e meu coração.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Carrosel

Eu gosto da madrugada, da sinceridade do silencio da noite, da eloquencia do sono das pessoas que dormem, da paz que me invade e me faz ser minha melhor companhia na solidão dos acordados. Debruçado sob as estrelas eu me pergunto sobre sonhos do mundo, converso com meus pensamentos querendo enxugar todo o pranto que existe. Conformo-me em saber que oceanos de lagrimas ainda persistirão enquanto corações se fizerem ilhas.. Acho que devo construir pontes...

Nesse momento eu apenas escuto uma canção que me sintoniza com a calma e tranquila velocidade do mundo e inocentemente adormeço, ignorando a alucinante viagem na qual todos estamos. E vagamos por entre astros que dançam sobre nós durante a pequena eternidade que conhecemos, à distancias tão infinitas que minha finita imaginação tenta inutilmente conceber.

E então a escuridão da noite, brincando comigo de segredos, vestida de mistérios, por simples capricho judia de minha alma faminta de poesia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Brisa sobre Brasa

Na invisivel da escuridão vi teus olhos, vivos, nitidos, brilhantes. Farois na noite do mar, a guiar entre as ondas furiosas os navios amendrontados. Na escuridão, senti teus olhos, o olhar quente como o fogo, ardente como o sol. Então me fiz vivo e viví dos teus olhos, nutrido pelo teu calor. Pude brincar com os séculos, vasculhar segredos do mundo e tudo fez sentido, como um grande mecanismo que funciona diante mim. Fui criança acalentada e jardim florido a esforçar de te mostar o que tenho de mais belo. E tu me envolveste em teus cabelos, numa prisão sem fim, da qual não cogitei liberdade, apenas manter-me cativo de teu olhar. Mas um dia, o que era fogo, tornou-se brasa, e de brasa tornou-se cinza e da cinza de tão leve que o vento leva e tudo se desfaz como se nada tivesse existido. Agora nada vejo, sinto o frio bater à minha porta e só me restam, em minha mão, um punhado de cinzas e lágrimas.