domingo, 12 de dezembro de 2010

A vida em caixas

Os lugares têm memórias. Os lugares são testemunhas dos nossos segundos, do minutos que insistiam em voar, das horas que cruelmente se faziam curtas. Os lugares são eternos assim como as palavras, o toque, o afago e os risos. Só os lugares guardam segredos dos contos escrevemos com nosso próprio sangue, sendo nós mesmos, usando nossas peles. Um dia esse barco chegaria a um porto, onde um de nós seguiria viagem e numa estranha sociedade, um de nós herdaria os acenos à beira do cais.

Pelo menos me deixe as canções para que eu as leve debaixo do braço, junto das fotos no parque , junto com o par de nossas pegadas na areia que as ondas prepotentemente acham que apagam.

Por que o café quente está frio? Por que raios, esse azul não deixa de ser cinza? Por que a loteria não me acerta essa semana? Por que não quero levantar da cama? Por que ainda continuo a falar sozinho com as paredes, sonhando com você?

Agora vejo, que meu temor das palavras era real, que elas são cruéis se não tens a destreza ao usá-las. Elas também são terríveis quando elas querem sair e as prendemos, elas são leões famintos e feridos numa gaiola de pássaros.

Agora vejo que o fim chega e sua vida está em caixas esperando sua ida, e o ultimo abraço está lá fora a bater a porta, aguardando para entrar e dizer que é hora de partir.

Sua vida está em caixas, e aqui o eco se instala pela sala… pelo quarto… e na minha mente vazia.